Curiosidades

 Superstições

 

·         Ficará viúvo todo aquele que tiver na parte superior média da testa uma saliência de cabelo;

·         A mulher grávida, que trouxer uma chave à cinta ou colocar um ovo no seio, terá o filho com o beiço rasgado ou uma saliência no crânio;

·         Nunca se deve coser roupa vestida sem se dizer as palavras usuais;

·         É mentiroso quem tiver os dentes raros;

·         A anemia é sinal da espinhela caída, o que se conhece sentando-se o doente. Depois de juntos os pés, estende-se os braços com as mãos também juntas pelo que se as extremidades destas não coincidirem, a espinhela está caída. Levanta-se aplicando um emplastro que aperta o tórax com a boca do estômago. O padecente não pode trabalhar nem andar muito. Descansa. Come carne de vitela com arroz, bebe vinho do melhor, leite e ovos. No fim de quinze dias deste tratamento fica bom;

·         Não se pode saltar por cima das crianças, pois assim não crescerão mais;

·         É mau agouro uma galinha cantar de galo. Deve ser logo vendida e o dinheiro em tachões para os tamancos;

·         Quando nascem mais de sete raparigas ou rapazes seguidos, o sétimo há-de ter o nome de Adão ou Eva. De contrário corre o fado, que consiste em sair, ao bater da meia-noite, da cama, ir espolinhar-se onde se espolinhou um cão, um gato ou um burro, tomando a forma desse animal; depois percorre em vertiginosa corrida sete freguesias, sete fontes e sete pontes; se por alguém for ferido de forma a fazer sangue, o fado quebra-se e o corredor readquire a forma humana, aparecendo nu;

·         As bruxas, que tudo adivinham, batem durante as noites tenebrosas as asas na água das poças com enorme alarido para aterrarem os transeuntes e penetrarem numa casa pelo buraco da fechadura;

·         Para afastar a influência maldosa das bruxas, usa-se um ramo de arruda ou um fato ao invés;

·         Entrar com o pé direito em qualquer casa ou lugar é sinal que tudo aí vai correr bem, contrário acontecerá, se, se entrar com o pé esquerdo;

·         Para curar qualquer criança aguda, dá-se-lhe a comer um bolo quente, tendo levado na massa azeite ou carne, atrás da porta da cozinha, de forma a que ninguém veja; o que restar é deitado a um cão ou gato que contrairá aquela doença, ficando o paciente livre de perigo.

 

 Lendas

 

Lenda do sino Grande

“Conta a lenda que, nas profundidades do sítio chamado “Eiteiro do Sino”, onde habitaram os moiros, que viviam rodeados das maiores riquezas de Ouro, existia um sino que respondia ao toque das três pancadas da “trindade”, que tocavam na torre.

Os habitantes da freguesia, intrigados com o facto, fizeram sondagens, buscas e escavações, mas todas inúteis, conta a lenda. Os “moiros”, ao verem tanto esforço baldado, resolveram dar o sino à freguesia.

Passados alguns anos a freguesia, tentou vender o sino. Em carro puxado por bois, ele foi transportado sem dificuldade até à linha recta em Alpendurada. Mas, se o transporte até ali decorrera sem qualquer dificuldade, ali o sino tornara-se tão pesado que nem os bois conseguiram leva-lo mais longe.

Reza a tradição que o povo se preocupa em explicar esta situação por estas precisas palavras “ é que o sino só irá até que permita os moiros do Eiteiro, ouvirem o seu som.

Termina a lenda: novamente trazido o sino para a torre da igreja, ali se mantém e ninguém mais se atreverá a tirá-lo dali, pois já sabem que não se atreverão. Entretanto, o sino dos moiros continua a responder ao toque das Ave-Marias.

Ainda hoje, há muitas pessoas que não gostam de passar no local depois das trindades.”

 

Lendas ligadas às lutas da conquista 

“Último juízo da Paz de quem se fala

Era juízo de paz na freguesia. Desempenhava funções de cocheiro da própria

 alquilaria.

Um dia, na sua carruagem, foi, como sempre ia, levar gente a um “juro” que muito estava a aproximar a opinião pública.

O doutor Afonso Costa depois ministro da república, era advogado de defesa da parte por quem as “massas” se “doíam”.

Depois de ouvir a sua eloquente defesa, no meio da emoção de toda a assembleia, levantou-se o senhor Eduardo Nunes de Paiva (pai) – o juiz da paz de quem estamos falando – e exclama:

            - Muito bem! A mulher que dá uma cria assim, nunca devia andar singela!

A frase caiu com tal impacto que jamais as pessoas da redondeza se esqueceram. Ainda hoje, ufanos do seu conterrâneo, homens e mulheres de uma certa idade contam-na com ardor, pois imprimem coisas que conhecem.

Continua a narrar um neto desse grande conversador: convidando o doutor Afonso da Costa a visitar o celebre juiz de paz em sua casa, ele o aceitou com a condição expressa de ser-lhe servido apenas um prato à refeição: e de bacalhau. Na mesa foi-lhe, efectivamente, apresentado apenas bacalhau, mas sobre tão diversas formas, que se assemelhou a um banquete”

 

A história do meu pai

“Era uma vez uma velhinha que vivia sozinha com o seu netinho, em sítio semi-ermo.

Tinha uma “alcofinha” de ovos debaixo da cama para fazer a ceia. À noite, quando o netinho foi buscar os ovos, viu uns olhos a brilhar. Assustado, chegou ao pé do avó a gritar. Tranquilizando-o com carinho, a avó sussurrou-lhe ao ouvido:

            - Está caladinho, meu filho! É o senhor que vem aqui para eu lhe contar a história do meu pai.

Entretanto, o forasteiro aproximou-se, com simulada tranquilidade e espírito hospitaleiro, foi convidado a pôr-se à vontade para se aquecer, o que fez sem cerimónia.

Ao pôr-se à vontade, deixou a velha focar que ele escondia um facalhão no bolso interior do casaco. Sempre fingindo, a velhinha iniciou a prometida narrativa:

            - “Eu vou-lhe contar a história do meu pai” que é uma passagem que eu gosto de contar muitas vezes, de tanto que isso me amargou.” E começou:

            - “ O meu pai teve uma doença terrível. De vez em quando, davam-lhe uma dores tamanhas que ele gritava tanto e tão alto que era mesmo uma dor de alma:

“Aquele rei, aquele rei, quem me acode! Aquele rei!”

            - “Esteja calada mulherzinha, que até os vizinhos ouvem!”

            - Ai! Pois ouvem, ouvem. Mas não faça caso. Eles já estão “acajo” habituados”! eu costumo contar isto muitas vezes. Isso alivia-me”. – e repetia o conto, e os gritos cada vez mais alto.

Apareceram os vizinhos, perguntando o que se passava, ao que ela respondeu:

            - Era eu que estava a contar a este senhor “A história do meu pai”. – E, dissimuladamente, ia apontando o facalhão que continuava a penetrar, bem por baixo do casaco.

Os vizinhos aperceberam-se da arma branca, e por isso mesmo, despiram-no e puseram-no a andar!”

 

O burrinho que já só comia uma caneirinha

“Era um homem muito pobre que vivia do seu trabalho com um burrito.

Como não tinha posses, o pobre animal era alimentado, cortando-lhe o dono cada vez mais à ração.

Dizia ele:

            - Graças a Deus já só comia três caneirinhas!

            - Já se remediava só com duas! – Regozijava-se poucos dias depois.

            - Até que enfim! Já só come uma! Consegui habitua-lo! Dizia o Homem contente.

Eis senão quando, afinal, aparece a lamentar-se, choroso e inconsolável, sem o seu pobre, mas único ganha-pão.

            - Agora que ele já só comia uma caneirinha é que foi morrer.”

 

O lavrador da Arada

“Ao regressar do seu trabalho, o lavrador deparou com um homem pobre que lhe pediu pousada.

Não lha recusou o bom camponês e mandou que lhe fizesse a cama para ele repousar.

De má mente, a mulher faz a cama numa loja onde havia muita humidade, sobre vides e sobre lama.

Tudo entrou em descanso. Eis senão quando a dona da casa começa a queixar-se, com forte dor duma dada no peito.

Aos seus queixumes, levanta-se o velho, solícito, dizendo:

            - Eu sei talhar a dada. Se quiser, talvez melhore.

Com o anuimento da doente, começou:

            - Bom homem me deu pousada

Má mulher me fez a cama,

 Sobre vida, sobre a lama,

Descansa aqui minha mama.

Eis porque hoje, quando surge a dada, se faz talhar o mal pelo curandeiro. “

 

 

 

Quando as plantas falam

“O cebolo e a linhaça – Um dia, diz a linhaça ao cebolo:

            - Tu meu Marão, ficas um mês debaixo do chão!

            - Também tu, minha ardida, mal te semeiam estas logo nascida! – replica agastado o cebolo.

O trigo, centeio e cevada – Diz o trigo ao centeio:

            - Tu, meu prudente, não entras nas casas que eu entro!

Replica a cevada:

            - Mas tu, meu ganchudo, não acodes às necessidades que eu acudo!

Destes colóquios, um tanto acres, ficam várias noções:

            1º- O cebolo demora muito a nascer, depois de lançar a semente, enquanto que a linhaça em breves dias se aponta ao sol.

            2º- Dos cereais mais cultivados na região – que a aveia”