Tradições 

 Malha

Semeia-se o centeio e passado alguns meses depois de crescer tem de ser cortado e posteriormente malhado.

Ora, assim como as espadeladas são exclusivas das mulheres, também as malhas são privativas dos homens. Portanto, o lavrador expõe, atarefado, ao sol os pequeninos molhos agora desemedados e na eira já em linha simples ou dupla o primeiro turno de centeio na disposição de ser malhado.

No dia da malha, muito antes do despontar do dia, à hora previamente marcada, chegam os malhadores, cada um com o seu mangual, em mangas de camisa, calças arregaçadas e eis que começa o trabalho árduo. Em dois grupos, voltados frente a frente, movimentados simultaneamente para um e outro extremo da eira, malham alternadamente, produzindo com a pancada do malho no centeio da eira, um som forte e surdo que se faz ouvir ao longe. Diz a tradição que é pela qualidade deste som que se conhece a maior valentia e melhor habilidade de malhar dos dois grupos.

Importa notar que a tarefa do malhador é extremamente árdua pelo que só os fortes tomam parte neste trabalho onde os que conseguem distinguir-se ficam com uma tal fama que se estende até à terceira ou quarta geração.

Os considerados fracos, velhos ou mulheres não participam nesta actividade, restando aos primeiros apenas a espevitagem da palha debulhada, selecção do colmo e formação das medas. Já as mulheres são responsáveis por assar o borrego e trazer frequentemente à eira o garrafão bem cheio, despertando infalível entusiasmo e energias do malhador.

Numa fase posterior e ao cair da tarde, uns constroem com a palha, gigantescas medas nas proximidades do beiral, outros atam o colmo, e outros com o auxílio de uma tara, limpam o escuro cereal que vai ser cuidadosamente recolhido no celeiro. 

 

 

Vindima

Logo ao romper do dia, depois de bem lavado e tapado o lagar e tomado o mata-bicho começa a faina. Os homens, cada qual com a sua cesta no braço e ao ombro a escada, que pode ter dezasseis degraus com doze metros de comprimento, escalam árvores bem altas.

Os menos fortes, idosos e mulheres vão rastejando pelos bardos térreos, enquanto os outros apanham nos arbustos bem altos. E todos, ora em conversa animada, ora cantarolando ou assobiando, vão recolhendo para os cestos o fruto. De vez em quando lá aparece uma ramada, e aí todos se juntam, pondo de parte as escadas compridas e utilizando agora escadotes ou pequenas escadas duplas de abrir. As mulheres, à falta de melhor, voltam os cestos, que lhes serve de suporte, e tudo fala e ri.

No entanto, as raparigas, fortes e satisfeitas, verdadeiros símbolos de pureza e alegria, lá vão enchendo o lagar transportando os cestos cheiinhos, a transbordar. Mesmo sob o esmagador peso, cantam suavemente e, nas folgas, reúnem-se para «deitar os cantaréus» tão tipicamente regionais.

Acaba a vindima e começa-se a pisar as uvas, em geral depois da ceia em que homens, jovens e também mais velhos lavam os pés, e saltam para dentro do lagar em linha, como os soldados em marcha, para sovar denodadamente as uvas, lugar para as mais variadas anedotas, cantos ou historietas.

Verificando-se que já não há bagos cheios e que o bagaço com grainha aflora facilmente à superfície do mosto, dá-se por terminado o trabalho.

No final, antes de voltar a casa, todos comem bacalhau cru demolhado em azeite ou sardinhas fritas e pão, bebendo vinho ou aguardente, onde, depois de uma lide alegre mas exaustiva os espera, já nas primeiras horas da manhã, um sono profundamente reparador.